Os Estados Unidos lançaram uma investigação formal sobre as práticas de comércio digital do Brasil, com destaque para o Pix, o sistema de pagamento instantâneo do país que rapidamente deslocou os concorrentes do setor privado. A investigação, anunciada na terça-feira pela Representante Comercial dos EUA, Jamieson Greer, examinará se as políticas digitais e comerciais do Brasil prejudicam injustamente as empresas dos EUA. Greer disse que a investigação analisará as "barreiras tarifárias e não tarifárias" do Brasil, afirmando que o país oferece tratamento preferencial a outros parceiros comerciais, ao mesmo tempo em que prejudica os exportadores dos EUA. Outro foco é a alegada penalização do Brasil às empresas de tecnologia americanas que se recusam a censurar discursos políticos. Em agosto de 2024, o Supremo Tribunal Federal do Brasil ordenou a suspensão nacional da plataforma de mídia social X, depois que Elon Musk se recusou a nomear um representante legal no país. A investigação marca a mais recente escalada nas tensões entre os dois países. Em 7 de julho, Trump foi às redes sociais para pedir às autoridades brasileiras que retirassem o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, que ele chamou de "caça às bruxas". Alguns dias depois, Trump ameaçou a investigação em uma carta ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, juntamente com uma tarifa de 50% sobre as importações brasileiras a partir de 1 de agosto. Relacionado: Fintech brasileira recebe aprovação para se tornar uma empresa de tesouraria de Bitcoin Lançado em 2020 pelo Banco Central do Brasil, o Pix é um sistema de pagamento instantâneo administrado pelo governo que permite que as pessoas enviem e recebam dinheiro instantaneamente, 24 horas por dia, 7 dias por semana, sem ou com custo muito baixo. Ao contrário dos sistemas de pagamento tradicionais, o Pix permite que os usuários ignorem completamente as redes de cartão de crédito, permitindo transferências diretas por meio de aplicativos móveis, códigos QR ou chaves de conta. Com mais de 150 milhões de usuários e aceitação em mais de 60 milhões de empresas, o Pix rapidamente se tornou a espinha dorsal da economia digital do Brasil. Em apenas cinco anos, tornou-se o método de pagamento padrão para tudo, desde vendedores ambulantes até contas de serviços públicos, transformando a forma como o dinheiro se move no país. A investigação dos EUA investigará se o Brasil tem favorecido seu sistema de pagamento local em detrimento de alternativas americanas estabelecidas, como Mastercard, Visa e outras empresas de fintech sediadas nos EUA. Relacionado: Imposto de 17,5% sobre criptomoedas no Brasil: como as novas regras prejudicam mais os pequenos investidores Embora o Pix esteja disponível apenas no mercado interno, faz parte de uma mudança mais ampla que preocupa Trump e as autoridades dos EUA. Pontes de cripto-fintech como a Truther permitem que pessoas em todo o mundo enviem stablecoins e liquidem instantaneamente em contas bancárias via Pix. Isso permite que indivíduos e empresas ignorem os trilhos financeiros tradicionais, como o sistema SWIFT, PayPal e serviços de remessa dos EUA, como a Western Union. Para Trump, a preocupação vai além do sistema de pagamento Pix. Como membro do bloco econômico BRICS — ao lado de Rússia, Índia, China e África do Sul — o Brasil faz parte de um esforço coordenado para reduzir a dependência do dólar americano e da infraestrutura financeira ocidental. Em 2024, os líderes adotaram o "BRICS Pay", uma plataforma de pagamentos transfronteiriços para contornar o SWIFT e facilitar as transações em moeda local. Em uma recente Cúpula do BRICS no Rio de Janeiro, o bloco discutiu a criação de uma moeda de reserva conjunta como uma alternativa ao dólar americano, uma medida que teria provocado a ira do presidente dos EUA. Revista: Como o yuan digital pode mudar o mundo... para melhor ou para pior [Odaily Planet Daily]