Opinião de: Matt Wright, cofundador e diretor executivo da Gaia. Em meados da década de 1400, a imprensa de Gutenberg removeu o monopólio do conhecimento escrito. A alfabetização expandiu-se, as instituições mudaram e o público finalmente teve acesso a ideias trancadas sob o controle da elite. Hoje, a inteligência artificial descentralizada (DeAI) desencadeia uma mudança semelhante, expandindo o acesso à inteligência e remodelando quem pode construir com ela. A descentralização da AI desafia a estrutura predominante da AI hoje. A maioria das plataformas opera como sistemas fechados. Os pesos dos modelos são ocultos, os pipelines de dados são proprietários e a tomada de decisões acontece por trás das APIs. Esse controle permitiu que um pequeno número de empresas determinasse como a inteligência evolui e quem pode usá-la. A DeAI reduz essa dependência e muda como a inteligência é criada, governada e distribuída. A natureza fechada dos sistemas de AI centralizados cria gargalos como resultado do acesso limitado, o que, por sua vez, leva a uma visão de mundo estreita. Em casos documentados, a tecnologia centralizada produziu decisões tendenciosas, resultados opacos e até prisões injustas. Esses riscos decorrem do controle centralizado sobre entradas, design e dados. Até mesmo os objetivos das empresas centrais de AI estão evoluindo sob pressão. Em 2025, a OpenAI abandonou os planos de se tornar uma entidade totalmente lucrativa e reestruturou seu braço comercial em uma corporação de benefício público controlada por sua matriz sem fins lucrativos. Embora a medida tenha sinalizado que o interesse público continua sendo uma prioridade, também revelou quão frágil esse compromisso pode ser quando vinculado à governança corporativa. A DeAI remove essa dependência inteiramente. Ela incorpora o benefício público na arquitetura, projetando-o em como o sistema funciona. Os desenvolvedores de DeAI podem executar modelos localmente, ajustá-los em dados regionais e adaptá-los a restrições específicas. As ferramentas não dependem de largura de banda, licenças comerciais ou aprovação corporativa. Elas operam onde as ferramentas centralizadas muitas vezes não podem. Agricultores na Índia usam assistentes de voz treinados em dialetos locais para planejar os ciclos de colheita. Em Serra Leoa, professores usam *chatbots* de AI por meio de aplicativos de mensagens de baixo consumo de dados para obter suporte de aula em tempo real que é mais preciso e econômico do que a pesquisa na web tradicional. Na zona rural da Guatemala, parteiras usam um aplicativo de *smartphone* alimentado por AI para monitorar a saúde fetal durante as visitas domiciliares, permitindo avaliações em tempo real sem acesso à internet e melhorando o atendimento materno em ambientes com poucos recursos. Todos esses projetos são criados pelos seres humanos que os utilizam — pessoas que historicamente foram deixadas de fora do desenvolvimento tecnológico global. Construir um agente de AI agora é mais fácil do que nunca. Tutoriais mostram como qualquer pessoa pode criar agentes de AI funcionais sem codificação. Para usuários mais técnicos, as plataformas oferecem ferramentas de desenvolvimento visual e baseadas em código. As barreiras de entrada são significativamente baixas. Relacionado: A AI centralizada ameaça um futuro digital democrático. As empresas também estão seguindo o exemplo. Os varejistas treinam pequenos modelos em dados de transações para melhorar a logística. As empresas personalizam modelos de peso aberto para operações internas. De acordo com a DappRadar, os aplicativos de AI descentralizados estão ganhando participação de mercado rápido o suficiente para potencialmente desafiar o DeFi e os jogos na Web3. A DeAI já está remodelando como as pessoas trabalham, aprendem e resolvem problemas em suas comunidades. Com cada implementação, a inteligência se torna menos abstrata, mais aplicável, mais situada e mais local. A crítica mais comum à DeAI é que a descentralização leva à inconsistência ou desinformação. Essas preocupações não são novas. Quando a imprensa de Gutenberg apareceu, os críticos alertaram sobre textos não verificados e desordem social. O resultado a longo prazo, no entanto, foi o progresso científico, a alfabetização e uma participação mais ampla no discurso público. Sistemas transparentes apoiam a supervisão. Modelos abertos podem ser inspecionados. As normas da comunidade podem governar as implementações locais. Os controles éticos podem evoluir em aberto, em vez de serem ditados por um único conjunto de valores corporativos. Essa divergência reflete uma divisão ideológica mais ampla na comunidade de AI. Dario Amodei, CEO da Anthropic, defendeu uma abordagem centralizada e focada na segurança, conforme descrito em seu ensaio, “Machines of Loving Grace”. Ele argumenta que a AGI responsável requer um desenvolvimento rigidamente controlado. Por outro lado, Ben Goertzel, fundador da SingularityNET, alertou que o desenvolvimento centralizado da AGI corre o risco de reforçar as visões de mundo estreitas de seus criadores. Em uma entrevista recente, ele pediu que a inteligência emergisse da colaboração global e da adaptação local. Essas posições influenciam os incentivos, os modelos de risco e o acesso global. Os sistemas centralizados priorizam a uniformidade e o controle. Os sistemas descentralizados permitem que a inteligência evolua dentro de diversas culturas, indústrias e casos de uso. Essa flexibilidade já está moldando novos mercados e novas instituições. A próxima fase da AI será definida por quem poderá participar. Quanto mais a inteligência se move para as mãos do público, mais durável, adaptável e representativa ela se torna. Os desenvolvedores estão se afastando das APIs fechadas, as instituições públicas estão investindo em infraestrutura soberana e modelos construídos pela comunidade aparecem em lugares com alcance limitado das ferramentas da Big Tech. A inteligência não é mais construída apenas para o mundo — ela é construída por ele. Ainda estamos no início desta transição, e o que vem a seguir depende do que construímos. Isso significa investir em infraestrutura descentralizada, financiar projetos locais e, acima de tudo, criar as ferramentas para moldar a inteligência tão acessível quanto as ferramentas para ler e escrever. O primeiro Renascimento expandiu quem podia ler. Este expandirá quem poderá pensar, computar e construir — em todos os lugares. Opinião de: Matt Wright, cofundador e diretor executivo da Gaia. Este artigo tem fins informativos gerais e não se destina a ser e não deve ser considerado como aconselhamento jurídico ou de investimento. As visões, pensamentos e opiniões expressas aqui são exclusivamente do autor e não refletem ou representam necessariamente as visões e opiniões da Cointelegraph.